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29 de junho de 2010

Um Amor Sobrenatural

Atolada com os estudos andava eu. Aquela semana de prova que viria me deixava atordoada. Trabalhos grandes e chatos, vivia tendo que pesquisar. Estava deixando de passear e de me divertir. Vivia para estudar e dormir, me sentia cansada, talvez um cansaço mental , mas isso atingia profundamente meu corpo.
Seria um dia diferente, queria eu acreditar.

Arrumei-me mais, andava muito desleixada com minha aparência. Afinal nunca havia me importado com ela.

Chegando na escola percebi que estava me afastando das pessoas, cada uma delas sentava nas cadeiras em frente ao refeitório, cada qual com seus assuntos. Cada uma em seu mundo. Senti-me sozinha, indefesa e sem opção do que fazer. Sentei-me no último banco, o dia estava frio, aquelas vozes e aquele barulho me incomodava muito. O sol começara a refletir nas minhas mãos que descansavam sobre a mochila azul e sem vida. Senti o calor fraco, mas aconchegante dos raios de sol. Fui invadida por uma paz inexplicável. O som que me incomodava parecia ficar cada vez mais baixo. E atrás da árvore verde e sem cor onde costumava se sentar estudantes, vi um, um aluno que eu nunca vira antes, seu rosto possuía um formato triangular, um maxilar charmoso, seus lábios eram carnudos, rosados, seus cabelos levemente ondulados eram de um preto fúnebre e seus olhos eram castanhos avermelhados que me faziam lembrar as folhas secas que caiam das árvores dessa estação, o outono. Sorria levemente para mim. Eu, ainda desnorteada, percebi que o pátio se esvaziava rapidamente. Quando me voltei para a árvore não vi mais ninguém. Levantei-me rapidamente e voltei para sala. Agora, invadida por uma ansiedade imensa, queria sair rapidamente daquela aula de Almerinda (Matemática) "A mulher que muito reclama e pouco faz", tudo bem que aquela aula cheia de linhas pra lá e para cá era importante e um saco ao mesmo tempo, porém naquele momento eu só queria ver o jovem que me encarara .

Na saída não pude demorar muito, tinha que chegar cedo em casa, mas era tanta a minha ansiedade que fui correndo rapidamente ao pátio para tentar ver o lindo rapaz. Aquele pátio estava lotado como sempre, era quase impossível encontrar alguém em meio a tantos estudantes. Decepcionada voltei para casa me sentindo uma derrotada. Não parava um minuto se quer de pensar nele. Eu me iludia, como poderia tal bela criatura olhar para mim? Eu sabia que seria muito difícil encontrá-lo novamente, pesquisei na comunidade do Liceu quase que toda e nada.

Acordei uma hora mais cedo, sendo que eu quase não dormira. A minha vontade de ir para escola era tão grande que eu seria capaz de saltitar pelas ruas. Cheguei na escola mais cedo, sentei-me na primeira mesa perto do portão da entrada. A cada aluno que passava eu ficava mais nervosa. O sinal tocara, e nenhuma novidade. Subi para sala de aula.


A maioria dos alunos já estava na sala, Vitória se encontrava debruçada sobre os braços, ainda bem que hoje ela estava presente. Eu precisava contar para alguém as novidades (novidades que na verdade não eram realmente novidades). Vitória disse que me ajudaria a encontrar o tal menino. Afinal, ela era uma amiga que eu sabia que poderia contar. As aulas se passaram tão lentamente naquele dia... O intervalo então... parecia uma eternidade, embora 20 minutos costumassem a passar bem rápido. Voltei a aula mais uma vez desanimada, no quarto tempo de aula pedi a professora para ir ao banheiro. O mesmo estava fechado, o que me fez descer as escadas rapidamente. (Sim, desci as escadas como uma louca). Quando pisei no último degrau daquelas escadas brancas e antigas, congelei. Eu estava vendo a figura mais linda que já vira em minha frente. Ali estava, sim, ele mesmo. Sentado em frente a pequena janela que dava para a rua no final da escada. Escrevia em seu caderno e parecia não perceber a presença
de minha pessoa. Eu, agitada e nervosa, depois do choque que me mantinha alí estacionada, sai correndo em direção ao banheiro. Cheguei na porta do mesmo e não fui capaz de entrar. Eu sabia que se voltasse rápido veria-o novamente. Porém, eu estava enganada. Não havia mais ninguém ali. Fui tomada novamente por uma onda de decepção e tristeza. Voltei para a sala, lá Vitória percebendo iminha aflição tentava me animar:

-Calma, ainda vamos descobrir em que sala ele estuda. Agora preste atenção na aula.

Eu tentava, mas era quase impossível.

Fui direto para casa, estava revoltada com a situação, prometi a mim mesma que não iria mais procurar por ele. Se o destino fosse encontrá-lo novamente isso aconteceria.


No dia seguinte fui uma das primeiras a chegar na sala. Comecei a adiantar os deveres de toda a semana. Era uma sexta feira e eu queria aproveitar o final de semana. De repente, meu celular tocou. Era uma mensagem de Vitória, que avisara que não viria porque estava se sentindo mal. Um olhar para a porta, aquele sorriso brilhava para mim novamente. Agora eu consegui me controlar e agir normalmente. Fingi que não o ví e continuei a escrever. Ele veio até mim se abaixou lentamente e sussurrou em meu ouvido:

-Não desista.

Quando eu ia empurrá-lo e perguntá-lo o porque do abuso ele saiu correndo rapidamente e eu, indo atrás dele, cheguei até o corredor e não vi mais ninguém. Os alunos começaram a chegar. O intervalo foi comum, chegando na sala de aula uma carta estava em baixo da minha carteira: “ Me encontre na quadra de trás. Estarei te esperando em baixo do coqueiro. Não se preocupe, eu apenas quero te conhecer melhor.”


Em outras circunstâncias eu negaria o pedido, e consultaria alguém antes disso. Mas a única pessoa que eu poderia contar não estava presente nesse dia . Bem, eu não poderia perder uma oportunidade dessas, afinal o que poderia acontecer de mal na escola?

Faltavam duas aulas para a hora da saída. Eu estava disposta a matá-las, mas uma das inspetoras entrou na hora e disse que o professor havia faltado.


Eu fui rapidamente no banheiro, queria me ver no espelho (coisa de menina) sabia que não seria fácil chegar até a quadra de trás. Fingi ser de uma turma de educação física que fazia aula no ginásio e consegui chegar a quadra. Lá estava ele, o sorriso era o mesmo; encantador. Os raios de sol iluminavam mais um pouco as folhas de outono nos seus olhos. Gentilmente pediu para que eu me sentasse ao seu lado. Foi tão gentil o modo que falou, tão suave e calma era a sua voz que qualquer prefixo de negação fugira da minha mente. Sentei-me ao seu lado. Sem dizer nada, e sem que meu coração pudesse ter tempo de bater mais forte. Suas mãos quentes apertavam forte as minhas e seus lábios mornos já se encontravam nos meus. Naquele momento me senti pertencente ao outono que cobria seus olhos. Eu queria julgá-lo por seu ato displicente, ao mesmo tempo queria abraçá-lo e pedir para que ficasse comigo naquele eterno momento. Parecia eu, conhece-lo a séculos. Parecia eu, saber que iria perdê-lo. Suas mãos foram ficando cada vez mais impercebíveis, o calor estava sumindo... Pude ouvir sair de sua boca a explicação que permanece em minha mente até hoje:


- Desculpe-me meu amor, desculpe-me por ter que deixá-la novamente como fiz em nossa vida passada. Precisava de teu beijo para poder esperar por ti até que renasça na sua próxima vida. Amarei você eternamente.


Sumiu numa luz forte e brilhante, folhas secas de outono caíram sobre minha cabeça.


Desde então, espero a vida que me fará encontrar o outono mais belo que eu já vivi.




Ange Lyn.

2 comentários:

  1. Anônimo7/4/12

    CARAMBA!! MUITO LINDO E ROMANTICO.. ADOREI.. PARA MIM É O MELHOR

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  2. Anônimo7/4/12

    AH ESQUECI DE DIZAER, ADOREI VC TER CITADO A ALMERIDA RSRS

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