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22 de junho de 2010

Repetentes - O CONTO

Você já reparou que toda a história de terror começa com o tempo nebuloso, tempestades, raios, etc.?
Pois bem, este é muito diferente, portanto, não se espante. Afinal, já viu um conto de terror começando com um dia lindo e ensolarado? Pois esse começa exatamente assim!

O Liceu estava exatamente igual.
Era uma tarde quente de verão, o sol brilhava como nunca e eu estava lá embaixo, como de costume, matando mais uma aula.
Até que uma coordenadora chegou até a minha mesa e perguntou a minha turma, eu até tentei enrolar, disse a ela que estava esperando uma reunião muito importante.
Ela logo se assustou e com os olhos arregalados começou a me pedir desculpas, disse que não sabia e que não me perturbaria mais.
Antes de ir embora ela me deu um papel e disse que eu estava muito adiantada e a "reunião" seria depois de amanhã.
Peguei o papel, agradeci e assim que ela saiu eu abri para ver o que estava escrito, o papel dizia:

Reunião dos alunos repetentes.
Sala de ciências humanas às 14:20.

Ah, agora entendi! Ela viu que eu estava no 2º ano e que repeti o 1° duas vezes.
Eu não estava nem um pouco afim de ir em uma reunião chata onde eles ficam dizendo que se repetirmos novamente seremos expulsos da escola, e blá, blá, blá.
Mas, algo me chamou a atenção, se eu fosse para essa tal reunião eu não precisaria assistir a aula de Espanhol. Estava resolvido: eu iria.

No dia seguinte eu encontrei uns amigos, também repetentes, e lhes mostrei o papel da reunião, perguntei se também haviam recebido, eles disseram que não e que não queriam ir porque era dia de provão.
Eu nem liguei, não sabia nada mesmo...
Eu iria com ou sem aquele bando de manés!

Chegou o dia da reunião e eu bati na porta de ciências humanas uns dez minutos antes do combinado, um sr. de óculos me atendeu e perguntou o que eu queria, mostrei-lhe o papel e ele logo me deixou entrar e mandou-me sentar numa das últimas cadeiras.
Eu fui para a última e fiquei sentada ali esperando o resto do pessoal chegar.
Vários alunos foram chegando aos poucos, o estranho era que eles tinha um aspecto de velhos, não pareciam jovens, na verdade eles tinham cara de cansados, devia ser o sol que estava batendo nos meus olhos.

Quando o relógio marcou 14:20 o sr. que havia me atendido trancou a porta e disse que poderiam começar o ritual.
Opa! Ritual? Que história é essa, eu pensei que fosse uma reunião!
Não consegui falar nada, só pensar e repetir os movimentos que eles faziam.
Os que se sentaram nas primeiras cadeiras começaram a se levantar e a dizer o ano em que repetiram.
O primeiro disse:
- Estou aqui, assombrando os alunos, desde 1956.
Todos aplaudiram e gritaram, menos eu.
Outro disse:
- E eu me matriculei aqui em 1948.
Este também foi ovacionado, e assim um por um foi dizendo o ano em que entrou no Liceu.

Quando a minha vez chegou eu estava encolhida na cadeira, sem forças para me levantar e tampouco para encarar uma pá de fantasmas!
Um deles gritou:
- Ei, essa menina não é das nossas! Nem tem nosso sinal. O que você veio fazer aqui menina?
- Eu recebi um convite para a reunião de repetentes, não sabia o que era ao certo.
- Então por que veio? Por acaso está nos espionando?
- Não, eu juro que não! E para sua informação eu também sou uma repetente.

Aquilo fez com que um sorriso brotasse naqueles rostos envelhecidos e uma mulher me perguntou:
- E quando foi que você se matriculou, meu bem?
- Em 2006!

O sorriso que havia aparecido sumiu num piscar de olhos e começou uma confusão que não há como explicar, só entendi algumas partes soltas:
"Ela não é das nossas..." "Precisamos dar um jeito nisso" " E o sinal, ainda falta um ano para ela poder receber o sinal"

Enquanto eles "conversavam" eu tentei sair da sala, mas havia me esquecido de um pequeno detalhe: a porta estava trancada.
O barulho que fiz quando tentei girar a maçaneta com mais força foi suficiente para chamar a atenção de todos que ali estavam.
Eles começaram a me olhar e disseram que daquela sala eu não iria sair até que todos entrassem em um acordo.
O desespero só tomou conta de mim quando eu pude ver a lua no céu, já era noite e eles ainda discutiam. Eu perguntei que horas aquilo tudo terminaria e eles me disseram que não tinham um pingo de pressa, afinal, eles já estavam mortos mesmo.
Mortos?!

Mas, como? Se eles estavam mortos deveriam ter asas e ficar voando por ai e não atormentando uma escola onde repetiram de ano.
A confusão havia se findado e um menino que havia repetido em 83 veio até onde eu estava e disse que eu tinha que fazer uma escolha. Ele disse que eu poderia receber o sinal e entrar para aquele grupo de vez ou eles apagariam absolutamente tudo da minha mente e eu seria uma maluca a mais no mundo.
Deram-me o tempo que eu quisesse para pensar e eu fiz algumas perguntas antes de dizer o que havia decidido.

Perguntei se depois de receber o tal sinal eu poderia continuar a andar entre os outros alunos da escola e se eu poderia levar uma vida normal; eles me disseram que andar entre os outros alunos e ser vista por eles era possível, mas levar uma vida normal? Eu nunca mais saberia o que era isso! Mas, havia um porém. Se eu recebesse meu diploma no 3° ano sem outra repetição o meu sinal desapareceria e eu voltaria a ser a mesma garota de sempre.

Eu poderia ser a mais burra da escola, mas uma coisa eu havia entendido, quem repete três vezes fica marcado com um sinal e sofre uma morte dentro da própria escola, a morte pode variar desde um engasgamento com um caroço de arroz à um tombo do topo da escada. E aquele que repete só duas vezes, como eu, ainda tinha uma chance.
Eu não queria ficar maluca, na verdade eu preferia receber essa droga de sinal e acabar logo com isso tudo.
Eu disse que queria o "sinal" e eles se olharam, perguntaram se eu tinha certeza disso, eu respondi que sim e eles me colocaram na janela e me mandaram olhar para a lua, eu olhei e enquanto um segurava minha cabeça para que eu não a desviasse outro estava com as mãos em meus pulmões - isso significa o motivo da minha morte caso eu repetisse novamente.

Eu acordei em meu quarto e fui direto pro espelho para ver se aquelas coisas foram só sonho ou se realmente aconteceram.
Quando cheguei ao espelho e levantei a blusa pude ver que sonho não era, na verdade era muito real.
Onde um daqueles caras colocou a mão havia aparecido uma pinta desregular e negra como petróleo.

O medo tinha tomado conta de mim e eu passei a estudar feito uma louca tentando recuperar o tempo perdido, mas infelizmente era tarde demais! Não havia como recuperar todos aqueles pontos.
O dia da entrega da nota chegou e quando eu abri o meu boletim e vi escrito "reprovada" um vento muito frio soprou em meu ouvido e eu entrei em desespero absoluto, comecei a chorar compulsivamente e tive uma crise de asma.

Parecia que o ar havia se tornado sólido, eu não conseguia mais respirar e quando me acharam caída no chão do pátio central eu já estava morta, mas minha alma estava presa àquele maldito colégio.
Estava na hora de cumprir o que havia prometido, a partir daquele momento eu seria uma alma penada que ficaria a vagar pela escola.
Se eu pudesse voltar atrás não teria repetido um ano se quer!
Mas, agora já é tarde demais.

Estarei sempre presa ao Liceu, estarei sempre presa à sala onde tudo começou...


Giullianna Drukleim

3 comentários:

  1. Isabela5/8/10

    Muito bom!!

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  2. Anônimo28/12/10

    hahahahahaha.... laion é um Fantasma intão??

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  3. Anônimo25/11/11

    srrsrrsr isso acontece com 60% do LICEU!!!!
    parabens a autora!!!

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