Vou explicar melhor, mas não pensem que sou louca, eu juro que tudo o que eu vi é real, assim como tudo que escutei.
Eu estudo na parte da tarde e precisei pegar um livro na biblioteca para fazer um trabalho de Literatura; eu nunca havia entrado lá, mas mesmo quem nunca entrou pode imaginar o cheiro insuportável de mofo que aquele lugar tem.
Voltando ao assunto, eu precisava de um livro de Machado de Assis, mas , eu não tinha uma ficha e por isso fiquei mais de uma hora esperando a "tia" achar uma folha em branco para mim; eu comecei a observar a sala e percebi uma pequena rachadura perto da última prateleira, eu estava quase indo lá para ver mas, a "tia" chamou a minha atenção, ela havia achado uma folha e queria que eu a assinasse.
Eu nem olhei para ver o que era, simplesmente assinei e perguntei se já podia ir pegar o livro, ela me disse que sim e eu fui em direção à rachadura, eu queria ver mais de perto.
Estava quase chegando lá, mas ela percebeu que eu não estava indo para a seção de romances e eufórica ela se levantou e me pegou pelo braço dizendo que os livros de Machado de Assis ficavam do outro lado da sala.
Eu não consegui parar para ver o que era, mas de uma coisa eu tenho certeza, rachadura aquilo não era nem aqui nem na China.
Eu achei o livro e o levei para casa, eu o li em menos de três dias, mas eu não lembrava onde o havia colocado.
Comecei a procurar como uma louca, mas o livro não aparecia.
Dois meses se passaram e a moça da biblioteca foi até a minha sala me entregar um aviso de que eu precisava devolver o livro...
O desespero tomou conta de mim, não era possível eu já havia procurado em todos os lugares, onde ele poderia estar?
Eu só via uma solução, eu teria que entrar na biblioteca e pegar um livro igual ao que havia perdido e dizer que eu estava devolvendo.
Eu nunca havia mentido antes, não daquela maneira e acho que dei muita bandeira.
Mas, quando tudo parecia estar dando certo foi que começou a dar tudo errado.
A "tia" que fica na biblioteca disse que precisaria ir ao banheiro e que nos trancaria na sala; eu olhei ao redor e pensei: "nós quem?", naquela sala não havia ninguém além de mim.
Deixei para lá, ela devia estar caducando e essa era a oportunidade que eu estava precisando para colocar meu plano em ação.
Fui até a prateleira dos livros de Machado e peguei um que estava com algo amarelo para fora, quando eu abri o livro vi o meu marcador de páginas ali.
Eu cocei os olhos, pisquei, cocei a cabeça, me belisquei, mas nada me fazia acreditar no que os meus olhos estavam vendo: aquele era o meu livro.
A princípio pensei que eu estava louca, mas aquele era o meu marcador sim! Meu namorado havia me dado de presente e meu nome estava escrito atrás e com a letra dele. Não era possível, eu não havia devolvido aquele livro, eu tenho certeza.
Meu tempo estava acabando e quando eu escutei a chave girar na porta corri para minha mochila e fingi tirar aquele livro de dentro dela, disse que queria entregar e retirei o meu marcador.
A tia me olhava como se desconfiasse de algo, mas também, pudera, eu estava suando frio e pálida. Aquilo havia me dado um belo de um susto.
Contei tudo para as minhas amigas e elas riram de mim, me chamaram de louca.
Disseram que eu já tinha entregado o livro há muito tempo, eu que não me lembrava.
Eu não acreditei, não sou louca e eu não tinha entregado o livro.
Comecei a ter insônia, fiquei nervosa e não conseguia pensar em mais nada que não fosse aquele bendito livro.
Eu estava começando a enlouquecer e resolvi tomar um calmante para dormir, quando enfim peguei no sono sonhei que um monstro saia da rachadura, não, aquilo não era um monstro; era nojento e meio verde, era gordo e se parecia muito com uma gelatina.
Ele mandava eu devolver o seu livro, e ia me empurrando contra a parede até que eu caí dentro da rachadura, fiquei lá dentro gritando por socorro e quanto mais eu gritava mais o monstro ria...
Acordei desesperada e disposta a ver o que tinha naquela rachadura, nem que para isso eu precisasse madrugar naquela escola.
Dormir lá não foi preciso, mas eu tive que chegar bem mais cedo e ficar escondida dentro da biblioteca por muito tempo...
Deu o horário de almoço e a tia estava saindo, quando ela trancou a porta eu saí de onde estava e fui em direção a parede da tal "rachadura", cheguei bem perto dela e tentei ver se conseguia enxergar algo lá dentro; eu consegui, havia uma luz, bem fraquinha mas, era uma luz.
Tentei abrir um buraco ali, mas a parede era de concreto - ou parecia ser.
Já cansada de tanto tentar eu apoiei um dos braços na prateleira de enciclopédia, BINGO! A "rachadura" se abriu.
Eu fiquei tão feliz em ver que havia conseguido que corri para pegar a mochila e entrar naquele buraco para ver onde dava.
Entrei e assim que olhei para os lados vi um lugar para colocar a mochila, estava pesada e resolvi deixá-la ali mesmo; assim que tirei minha mochila das costas o buraco se fechou.
Pronto, agora eu estava presa numa sala branca que aparentemente não tinha saída.
Comecei a tatear a parede e encontrei um papel enrolado e preso à uma fita vermelha.
Abri o papel e nele estava escrito que para sair dali eu deveria responder uma pergunta, se eu acertasse teria a liberdade e a minha paz de volta, mas se eu errasse o meu maior pesadelo se realizaria. Aquilo me deixou um pouco nervosa e eu me virei para tentar abrir um buraco na tal rachadura, mas, quando me virei vi um olho me olhando; não era um olho eram vários olhos e estavam em toda a parte, eu comecei a pirar e gritei bem alto que eu aceitava responder a pergunta.
Logo depois de dizer isso os olhos sumiram e uma risada começou a soar na sala, aquilo era ensurdecedor e quando o riso acabou uma voz disse para eu pegar um papel que estava embaixo do meu pé.
Era incrível, havia mesmo um papel ali embaixo e eu peguei admirada, como era possível?
Abri e li a seguinte pergunta:
"Sou uma moça de família pobre, mas, fiquei rica do nada.
Esnobei muitos pretendentes interesseiros e resolvi castigar o homem que eu amava por uma coisa que ele havia feito há muito tempo atrás.
Com o passar dos meses ele entendeu o verdadeiro significado do amor e do dinheiro.
Meu final é mais feliz do que os de muitos contos de fada.
O nome do livro, do qual faço parte, é Senhora, mas quem me escreveu?"
Ah não!
Eu não sabia nada de Literatura, comecei a suar frio e pensar no que estava no outro papel.
Se eu errasse o meu maior pesadelo se realizaria, e agora?
A "voz" me deu um minuto para pensar e quando meu tempo estava chegando ao fim eu disse que o nome do autor era Castro Alves.
Risos, risos altos.
Eu havia errado, o autor era José de Alencar.
A "voz" se silenciou por um momento e eu fechei meus olhos com muita força.
Quando os abri estava num manicômio, numa camisa de força.
Aquele era o meu pior pesadelo.
Comecei a surtar e os médicos entraram correndo com uma seringa de calmante na mão, eu logo me acalmei, foi quando o Dr. disse que eu tinha recebido um presente e que me soltaria da camisa de força por alguns momentos para que eu pudesse ver o que era.
Ele me soltou e entrou com uma caixa, eu estava muito grogue para fugir ou tentar algo, mas não para não conseguir abrir.
Assim que eu rasguei o papel que envolvia o tal presente vi um livro em minhas mãos.
Aquilo me deixou desesperada e taquei o livro o mais longe possível, o médico, vendo que eu estava muito agitada mandou chamar os enfermeiros para aplicarem novamente o calmante.
Eles entraram e me sedaram, mas no chão havia ficado o livro recebido.
O nome, não é difícil de adivinhar.
Era Senhora de José de Alencar e em cima do livro havia um papel colado e nele estava escrito:
"DIVIRTA-SE!"
De: Giullianna Drukleim
O MELHOR :D
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