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29 de junho de 2010

Um Amor Sobrenatural

Atolada com os estudos andava eu. Aquela semana de prova que viria me deixava atordoada. Trabalhos grandes e chatos, vivia tendo que pesquisar. Estava deixando de passear e de me divertir. Vivia para estudar e dormir, me sentia cansada, talvez um cansaço mental , mas isso atingia profundamente meu corpo.
Seria um dia diferente, queria eu acreditar.

Arrumei-me mais, andava muito desleixada com minha aparência. Afinal nunca havia me importado com ela.

Chegando na escola percebi que estava me afastando das pessoas, cada uma delas sentava nas cadeiras em frente ao refeitório, cada qual com seus assuntos. Cada uma em seu mundo. Senti-me sozinha, indefesa e sem opção do que fazer. Sentei-me no último banco, o dia estava frio, aquelas vozes e aquele barulho me incomodava muito. O sol começara a refletir nas minhas mãos que descansavam sobre a mochila azul e sem vida. Senti o calor fraco, mas aconchegante dos raios de sol. Fui invadida por uma paz inexplicável. O som que me incomodava parecia ficar cada vez mais baixo. E atrás da árvore verde e sem cor onde costumava se sentar estudantes, vi um, um aluno que eu nunca vira antes, seu rosto possuía um formato triangular, um maxilar charmoso, seus lábios eram carnudos, rosados, seus cabelos levemente ondulados eram de um preto fúnebre e seus olhos eram castanhos avermelhados que me faziam lembrar as folhas secas que caiam das árvores dessa estação, o outono. Sorria levemente para mim. Eu, ainda desnorteada, percebi que o pátio se esvaziava rapidamente. Quando me voltei para a árvore não vi mais ninguém. Levantei-me rapidamente e voltei para sala. Agora, invadida por uma ansiedade imensa, queria sair rapidamente daquela aula de Almerinda (Matemática) "A mulher que muito reclama e pouco faz", tudo bem que aquela aula cheia de linhas pra lá e para cá era importante e um saco ao mesmo tempo, porém naquele momento eu só queria ver o jovem que me encarara .

Na saída não pude demorar muito, tinha que chegar cedo em casa, mas era tanta a minha ansiedade que fui correndo rapidamente ao pátio para tentar ver o lindo rapaz. Aquele pátio estava lotado como sempre, era quase impossível encontrar alguém em meio a tantos estudantes. Decepcionada voltei para casa me sentindo uma derrotada. Não parava um minuto se quer de pensar nele. Eu me iludia, como poderia tal bela criatura olhar para mim? Eu sabia que seria muito difícil encontrá-lo novamente, pesquisei na comunidade do Liceu quase que toda e nada.

Acordei uma hora mais cedo, sendo que eu quase não dormira. A minha vontade de ir para escola era tão grande que eu seria capaz de saltitar pelas ruas. Cheguei na escola mais cedo, sentei-me na primeira mesa perto do portão da entrada. A cada aluno que passava eu ficava mais nervosa. O sinal tocara, e nenhuma novidade. Subi para sala de aula.


A maioria dos alunos já estava na sala, Vitória se encontrava debruçada sobre os braços, ainda bem que hoje ela estava presente. Eu precisava contar para alguém as novidades (novidades que na verdade não eram realmente novidades). Vitória disse que me ajudaria a encontrar o tal menino. Afinal, ela era uma amiga que eu sabia que poderia contar. As aulas se passaram tão lentamente naquele dia... O intervalo então... parecia uma eternidade, embora 20 minutos costumassem a passar bem rápido. Voltei a aula mais uma vez desanimada, no quarto tempo de aula pedi a professora para ir ao banheiro. O mesmo estava fechado, o que me fez descer as escadas rapidamente. (Sim, desci as escadas como uma louca). Quando pisei no último degrau daquelas escadas brancas e antigas, congelei. Eu estava vendo a figura mais linda que já vira em minha frente. Ali estava, sim, ele mesmo. Sentado em frente a pequena janela que dava para a rua no final da escada. Escrevia em seu caderno e parecia não perceber a presença
de minha pessoa. Eu, agitada e nervosa, depois do choque que me mantinha alí estacionada, sai correndo em direção ao banheiro. Cheguei na porta do mesmo e não fui capaz de entrar. Eu sabia que se voltasse rápido veria-o novamente. Porém, eu estava enganada. Não havia mais ninguém ali. Fui tomada novamente por uma onda de decepção e tristeza. Voltei para a sala, lá Vitória percebendo iminha aflição tentava me animar:

-Calma, ainda vamos descobrir em que sala ele estuda. Agora preste atenção na aula.

Eu tentava, mas era quase impossível.

Fui direto para casa, estava revoltada com a situação, prometi a mim mesma que não iria mais procurar por ele. Se o destino fosse encontrá-lo novamente isso aconteceria.


No dia seguinte fui uma das primeiras a chegar na sala. Comecei a adiantar os deveres de toda a semana. Era uma sexta feira e eu queria aproveitar o final de semana. De repente, meu celular tocou. Era uma mensagem de Vitória, que avisara que não viria porque estava se sentindo mal. Um olhar para a porta, aquele sorriso brilhava para mim novamente. Agora eu consegui me controlar e agir normalmente. Fingi que não o ví e continuei a escrever. Ele veio até mim se abaixou lentamente e sussurrou em meu ouvido:

-Não desista.

Quando eu ia empurrá-lo e perguntá-lo o porque do abuso ele saiu correndo rapidamente e eu, indo atrás dele, cheguei até o corredor e não vi mais ninguém. Os alunos começaram a chegar. O intervalo foi comum, chegando na sala de aula uma carta estava em baixo da minha carteira: “ Me encontre na quadra de trás. Estarei te esperando em baixo do coqueiro. Não se preocupe, eu apenas quero te conhecer melhor.”


Em outras circunstâncias eu negaria o pedido, e consultaria alguém antes disso. Mas a única pessoa que eu poderia contar não estava presente nesse dia . Bem, eu não poderia perder uma oportunidade dessas, afinal o que poderia acontecer de mal na escola?

Faltavam duas aulas para a hora da saída. Eu estava disposta a matá-las, mas uma das inspetoras entrou na hora e disse que o professor havia faltado.


Eu fui rapidamente no banheiro, queria me ver no espelho (coisa de menina) sabia que não seria fácil chegar até a quadra de trás. Fingi ser de uma turma de educação física que fazia aula no ginásio e consegui chegar a quadra. Lá estava ele, o sorriso era o mesmo; encantador. Os raios de sol iluminavam mais um pouco as folhas de outono nos seus olhos. Gentilmente pediu para que eu me sentasse ao seu lado. Foi tão gentil o modo que falou, tão suave e calma era a sua voz que qualquer prefixo de negação fugira da minha mente. Sentei-me ao seu lado. Sem dizer nada, e sem que meu coração pudesse ter tempo de bater mais forte. Suas mãos quentes apertavam forte as minhas e seus lábios mornos já se encontravam nos meus. Naquele momento me senti pertencente ao outono que cobria seus olhos. Eu queria julgá-lo por seu ato displicente, ao mesmo tempo queria abraçá-lo e pedir para que ficasse comigo naquele eterno momento. Parecia eu, conhece-lo a séculos. Parecia eu, saber que iria perdê-lo. Suas mãos foram ficando cada vez mais impercebíveis, o calor estava sumindo... Pude ouvir sair de sua boca a explicação que permanece em minha mente até hoje:


- Desculpe-me meu amor, desculpe-me por ter que deixá-la novamente como fiz em nossa vida passada. Precisava de teu beijo para poder esperar por ti até que renasça na sua próxima vida. Amarei você eternamente.


Sumiu numa luz forte e brilhante, folhas secas de outono caíram sobre minha cabeça.


Desde então, espero a vida que me fará encontrar o outono mais belo que eu já vivi.




Ange Lyn.

22 de junho de 2010

Repetentes - O CONTO

Você já reparou que toda a história de terror começa com o tempo nebuloso, tempestades, raios, etc.?
Pois bem, este é muito diferente, portanto, não se espante. Afinal, já viu um conto de terror começando com um dia lindo e ensolarado? Pois esse começa exatamente assim!

O Liceu estava exatamente igual.
Era uma tarde quente de verão, o sol brilhava como nunca e eu estava lá embaixo, como de costume, matando mais uma aula.
Até que uma coordenadora chegou até a minha mesa e perguntou a minha turma, eu até tentei enrolar, disse a ela que estava esperando uma reunião muito importante.
Ela logo se assustou e com os olhos arregalados começou a me pedir desculpas, disse que não sabia e que não me perturbaria mais.
Antes de ir embora ela me deu um papel e disse que eu estava muito adiantada e a "reunião" seria depois de amanhã.
Peguei o papel, agradeci e assim que ela saiu eu abri para ver o que estava escrito, o papel dizia:

Reunião dos alunos repetentes.
Sala de ciências humanas às 14:20.

Ah, agora entendi! Ela viu que eu estava no 2º ano e que repeti o 1° duas vezes.
Eu não estava nem um pouco afim de ir em uma reunião chata onde eles ficam dizendo que se repetirmos novamente seremos expulsos da escola, e blá, blá, blá.
Mas, algo me chamou a atenção, se eu fosse para essa tal reunião eu não precisaria assistir a aula de Espanhol. Estava resolvido: eu iria.

No dia seguinte eu encontrei uns amigos, também repetentes, e lhes mostrei o papel da reunião, perguntei se também haviam recebido, eles disseram que não e que não queriam ir porque era dia de provão.
Eu nem liguei, não sabia nada mesmo...
Eu iria com ou sem aquele bando de manés!

Chegou o dia da reunião e eu bati na porta de ciências humanas uns dez minutos antes do combinado, um sr. de óculos me atendeu e perguntou o que eu queria, mostrei-lhe o papel e ele logo me deixou entrar e mandou-me sentar numa das últimas cadeiras.
Eu fui para a última e fiquei sentada ali esperando o resto do pessoal chegar.
Vários alunos foram chegando aos poucos, o estranho era que eles tinha um aspecto de velhos, não pareciam jovens, na verdade eles tinham cara de cansados, devia ser o sol que estava batendo nos meus olhos.

Quando o relógio marcou 14:20 o sr. que havia me atendido trancou a porta e disse que poderiam começar o ritual.
Opa! Ritual? Que história é essa, eu pensei que fosse uma reunião!
Não consegui falar nada, só pensar e repetir os movimentos que eles faziam.
Os que se sentaram nas primeiras cadeiras começaram a se levantar e a dizer o ano em que repetiram.
O primeiro disse:
- Estou aqui, assombrando os alunos, desde 1956.
Todos aplaudiram e gritaram, menos eu.
Outro disse:
- E eu me matriculei aqui em 1948.
Este também foi ovacionado, e assim um por um foi dizendo o ano em que entrou no Liceu.

Quando a minha vez chegou eu estava encolhida na cadeira, sem forças para me levantar e tampouco para encarar uma pá de fantasmas!
Um deles gritou:
- Ei, essa menina não é das nossas! Nem tem nosso sinal. O que você veio fazer aqui menina?
- Eu recebi um convite para a reunião de repetentes, não sabia o que era ao certo.
- Então por que veio? Por acaso está nos espionando?
- Não, eu juro que não! E para sua informação eu também sou uma repetente.

Aquilo fez com que um sorriso brotasse naqueles rostos envelhecidos e uma mulher me perguntou:
- E quando foi que você se matriculou, meu bem?
- Em 2006!

O sorriso que havia aparecido sumiu num piscar de olhos e começou uma confusão que não há como explicar, só entendi algumas partes soltas:
"Ela não é das nossas..." "Precisamos dar um jeito nisso" " E o sinal, ainda falta um ano para ela poder receber o sinal"

Enquanto eles "conversavam" eu tentei sair da sala, mas havia me esquecido de um pequeno detalhe: a porta estava trancada.
O barulho que fiz quando tentei girar a maçaneta com mais força foi suficiente para chamar a atenção de todos que ali estavam.
Eles começaram a me olhar e disseram que daquela sala eu não iria sair até que todos entrassem em um acordo.
O desespero só tomou conta de mim quando eu pude ver a lua no céu, já era noite e eles ainda discutiam. Eu perguntei que horas aquilo tudo terminaria e eles me disseram que não tinham um pingo de pressa, afinal, eles já estavam mortos mesmo.
Mortos?!

Mas, como? Se eles estavam mortos deveriam ter asas e ficar voando por ai e não atormentando uma escola onde repetiram de ano.
A confusão havia se findado e um menino que havia repetido em 83 veio até onde eu estava e disse que eu tinha que fazer uma escolha. Ele disse que eu poderia receber o sinal e entrar para aquele grupo de vez ou eles apagariam absolutamente tudo da minha mente e eu seria uma maluca a mais no mundo.
Deram-me o tempo que eu quisesse para pensar e eu fiz algumas perguntas antes de dizer o que havia decidido.

Perguntei se depois de receber o tal sinal eu poderia continuar a andar entre os outros alunos da escola e se eu poderia levar uma vida normal; eles me disseram que andar entre os outros alunos e ser vista por eles era possível, mas levar uma vida normal? Eu nunca mais saberia o que era isso! Mas, havia um porém. Se eu recebesse meu diploma no 3° ano sem outra repetição o meu sinal desapareceria e eu voltaria a ser a mesma garota de sempre.

Eu poderia ser a mais burra da escola, mas uma coisa eu havia entendido, quem repete três vezes fica marcado com um sinal e sofre uma morte dentro da própria escola, a morte pode variar desde um engasgamento com um caroço de arroz à um tombo do topo da escada. E aquele que repete só duas vezes, como eu, ainda tinha uma chance.
Eu não queria ficar maluca, na verdade eu preferia receber essa droga de sinal e acabar logo com isso tudo.
Eu disse que queria o "sinal" e eles se olharam, perguntaram se eu tinha certeza disso, eu respondi que sim e eles me colocaram na janela e me mandaram olhar para a lua, eu olhei e enquanto um segurava minha cabeça para que eu não a desviasse outro estava com as mãos em meus pulmões - isso significa o motivo da minha morte caso eu repetisse novamente.

Eu acordei em meu quarto e fui direto pro espelho para ver se aquelas coisas foram só sonho ou se realmente aconteceram.
Quando cheguei ao espelho e levantei a blusa pude ver que sonho não era, na verdade era muito real.
Onde um daqueles caras colocou a mão havia aparecido uma pinta desregular e negra como petróleo.

O medo tinha tomado conta de mim e eu passei a estudar feito uma louca tentando recuperar o tempo perdido, mas infelizmente era tarde demais! Não havia como recuperar todos aqueles pontos.
O dia da entrega da nota chegou e quando eu abri o meu boletim e vi escrito "reprovada" um vento muito frio soprou em meu ouvido e eu entrei em desespero absoluto, comecei a chorar compulsivamente e tive uma crise de asma.

Parecia que o ar havia se tornado sólido, eu não conseguia mais respirar e quando me acharam caída no chão do pátio central eu já estava morta, mas minha alma estava presa àquele maldito colégio.
Estava na hora de cumprir o que havia prometido, a partir daquele momento eu seria uma alma penada que ficaria a vagar pela escola.
Se eu pudesse voltar atrás não teria repetido um ano se quer!
Mas, agora já é tarde demais.

Estarei sempre presa ao Liceu, estarei sempre presa à sala onde tudo começou...


Giullianna Drukleim

8 de junho de 2010

A Biblioteca

Tudo começou com o atraso de um livro.

Vou explicar melhor, mas não pensem que sou louca, eu juro que tudo o que eu vi é real, assim como tudo que escutei.

Eu estudo na parte da tarde e precisei pegar um livro na biblioteca para fazer um trabalho de Literatura; eu nunca havia entrado lá, mas mesmo quem nunca entrou pode imaginar o cheiro insuportável de mofo que aquele lugar tem.

Voltando ao assunto, eu precisava de um livro de Machado de Assis, mas , eu não tinha uma ficha e por isso fiquei mais de uma hora esperando a "tia" achar uma folha em branco para mim; eu comecei a observar a sala e percebi uma pequena rachadura perto da última prateleira, eu estava quase indo lá para ver mas, a "tia" chamou a minha atenção, ela havia achado uma folha e queria que eu a assinasse.

Eu nem olhei para ver o que era, simplesmente assinei e perguntei se já podia ir pegar o livro, ela me disse que sim e eu fui em direção à rachadura, eu queria ver mais de perto.

Estava quase chegando lá, mas ela percebeu que eu não estava indo para a seção de romances e eufórica ela se levantou e me pegou pelo braço dizendo que os livros de Machado de Assis ficavam do outro lado da sala.

Eu não consegui parar para ver o que era, mas de uma coisa eu tenho certeza, rachadura aquilo não era nem aqui nem na China.

Eu achei o livro e o levei para casa, eu o li em menos de três dias, mas eu não lembrava onde o havia colocado.

Comecei a procurar como uma louca, mas o livro não aparecia.
Dois meses se passaram e a moça da biblioteca foi até a minha sala me entregar um aviso de que eu precisava devolver o livro...

O desespero tomou conta de mim, não era possível eu já havia procurado em todos os lugares, onde ele poderia estar?

Eu só via uma solução, eu teria que entrar na biblioteca e pegar um livro igual ao que havia perdido e dizer que eu estava devolvendo.

Eu nunca havia mentido antes, não daquela maneira e acho que dei muita bandeira.

Mas, quando tudo parecia estar dando certo foi que começou a dar tudo errado.

A "tia" que fica na biblioteca disse que precisaria ir ao banheiro e que nos trancaria na sala; eu olhei ao redor e pensei: "nós quem?", naquela sala não havia ninguém além de mim.

Deixei para lá, ela devia estar caducando e essa era a oportunidade que eu estava precisando para colocar meu plano em ação.

Fui até a prateleira dos livros de Machado e peguei um que estava com algo amarelo para fora, quando eu abri o livro vi o meu marcador de páginas ali.

Eu cocei os olhos, pisquei, cocei a cabeça, me belisquei, mas nada me fazia acreditar no que os meus olhos estavam vendo: aquele era o meu livro.

A princípio pensei que eu estava louca, mas aquele era o meu marcador sim! Meu namorado havia me dado de presente e meu nome estava escrito atrás e com a letra dele. Não era possível, eu não havia devolvido aquele livro, eu tenho certeza.

Meu tempo estava acabando e quando eu escutei a chave girar na porta corri para minha mochila e fingi tirar aquele livro de dentro dela, disse que queria entregar e retirei o meu marcador.

A tia me olhava como se desconfiasse de algo, mas também, pudera, eu estava suando frio e pálida. Aquilo havia me dado um belo de um susto.
Contei tudo para as minhas amigas e elas riram de mim, me chamaram de louca.
Disseram que eu já tinha entregado o livro há muito tempo, eu que não me lembrava.
Eu não acreditei, não sou louca e eu não tinha entregado o livro.
Comecei a ter insônia, fiquei nervosa e não conseguia pensar em mais nada que não fosse aquele bendito livro.

Eu estava começando a enlouquecer e resolvi tomar um calmante para dormir, quando enfim peguei no sono sonhei que um monstro saia da rachadura, não, aquilo não era um monstro; era nojento e meio verde, era gordo e se parecia muito com uma gelatina.
Ele mandava eu devolver o seu livro, e ia me empurrando contra a parede até que eu caí dentro da rachadura, fiquei lá dentro gritando por socorro e quanto mais eu gritava mais o monstro ria...

Acordei desesperada e disposta a ver o que tinha naquela rachadura, nem que para isso eu precisasse madrugar naquela escola.

Dormir lá não foi preciso, mas eu tive que chegar bem mais cedo e ficar escondida dentro da biblioteca por muito tempo...

Deu o horário de almoço e a tia estava saindo, quando ela trancou a porta eu saí de onde estava e fui em direção a parede da tal "rachadura", cheguei bem perto dela e tentei ver se conseguia enxergar algo lá dentro; eu consegui, havia uma luz, bem fraquinha mas, era uma luz.

Tentei abrir um buraco ali, mas a parede era de concreto - ou parecia ser.

Já cansada de tanto tentar eu apoiei um dos braços na prateleira de enciclopédia, BINGO! A "rachadura" se abriu.

Eu fiquei tão feliz em ver que havia conseguido que corri para pegar a mochila e entrar naquele buraco para ver onde dava.

Entrei e assim que olhei para os lados vi um lugar para colocar a mochila, estava pesada e resolvi deixá-la ali mesmo; assim que tirei minha mochila das costas o buraco se fechou.

Pronto, agora eu estava presa numa sala branca que aparentemente não tinha saída.

Comecei a tatear a parede e encontrei um papel enrolado e preso à uma fita vermelha.

Abri o papel e nele estava escrito que para sair dali eu deveria responder uma pergunta, se eu acertasse teria a liberdade e a minha paz de volta, mas se eu errasse o meu maior pesadelo se realizaria. Aquilo me deixou um pouco nervosa e eu me virei para tentar abrir um buraco na tal rachadura, mas, quando me virei vi um olho me olhando; não era um olho eram vários olhos e estavam em toda a parte, eu comecei a pirar e gritei bem alto que eu aceitava responder a pergunta.

Logo depois de dizer isso os olhos sumiram e uma risada começou a soar na sala, aquilo era ensurdecedor e quando o riso acabou uma voz disse para eu pegar um papel que estava embaixo do meu pé.

Era incrível, havia mesmo um papel ali embaixo e eu peguei admirada, como era possível?

Abri e li a seguinte pergunta:

"Sou uma moça de família pobre, mas, fiquei rica do nada.
Esnobei muitos pretendentes interesseiros e resolvi castigar o homem que eu amava por uma coisa que ele havia feito há muito tempo atrás.
Com o passar dos meses ele entendeu o verdadeiro significado do amor e do dinheiro.
Meu final é mais feliz do que os de muitos contos de fada.
O nome do livro, do qual faço parte, é Senhora, mas quem me escreveu?"


Ah não!
Eu não sabia nada de Literatura, comecei a suar frio e pensar no que estava no outro papel.
Se eu errasse o meu maior pesadelo se realizaria, e agora?
A "voz" me deu um minuto para pensar e quando meu tempo estava chegando ao fim eu disse que o nome do autor era Castro Alves.

Risos, risos altos.
Eu havia errado, o autor era José de Alencar.
A "voz" se silenciou por um momento e eu fechei meus olhos com muita força.
Quando os abri estava num manicômio, numa camisa de força.
Aquele era o meu pior pesadelo.
Comecei a surtar e os médicos entraram correndo com uma seringa de calmante na mão, eu logo me acalmei, foi quando o Dr. disse que eu tinha recebido um presente e que me soltaria da camisa de força por alguns momentos para que eu pudesse ver o que era.
Ele me soltou e entrou com uma caixa, eu estava muito grogue para fugir ou tentar algo, mas não para não conseguir abrir.

Assim que eu rasguei o papel que envolvia o tal presente vi um livro em minhas mãos.
Aquilo me deixou desesperada e taquei o livro o mais longe possível, o médico, vendo que eu estava muito agitada mandou chamar os enfermeiros para aplicarem novamente o calmante.
Eles entraram e me sedaram, mas no chão havia ficado o livro recebido.
O nome, não é difícil de adivinhar.
Era Senhora de José de Alencar e em cima do livro havia um papel colado e nele estava escrito:


"DIVIRTA-SE!"


De: Giullianna Drukleim

2 de junho de 2010

Repetente

Bem, me chamo Ugo este é meu 2° ano no 1° ano no Liceu . Sim, sou um repetente. Não venha me julgar. Errei e sei que isso não foi pela minha falta de capacidade, mas infelizmente eu fui mais um. Vítima como vários estudantes que deixam o ensino fundamental e ingressam no ensino médio deslumbrados com tal fato.



Sempre tive grandes amigos ao meu lado. Alguns foram separados de mim por motivos que a vida não se dá ao trabalho de explicar, outros ainda caminham ao meu lado e não se importam mais comigo, e por fim alguns que mesmo um pouco distantes sempre me estenderam a mão quando precisei. Nunca fui uma espécie de gênio,mas assistia a aulas e me preocupava com minhas notas. Quando entrei no Liceu esperava encontrar novos amigos ser reconhecido e desejado. Me sentia um homem, ganharia novas responsabilidades e isso me deixava com a vontade de arriscar tudo que tinha.



A minha sala estava cheia de novos estudantes, de pessoas que eu nunca vira na minha frente. Os que me pareceram mais legais e divertidos eram os que faziam de tudo para chamar a atenção. Eles me acolheram e me fizeram sentir importante.



Queríamos mais diversão, o tempo do intervalo passava mais rápido que o Flash (Flash é um nome compartilhado por diversos super-heróis da DC Comics ). Não dava tempo para conversar nem para fazer palhaçadas extravagantes. O jeito de fazer as coisas funcionarem do nosso jeito foi matando aulas. No começo não perdíamos muita coisa. Mas depois foi piorando, minhas notas foram ficando baixas, os professores me olhavam de uma forma diferente. Fui ficando conhecido, pela escola toda. Mas não me sentia muito bem com isso. Afastei-me de velhos amigos, tinha vergonha de quando eles me perguntavam como eu estava indo na escola. Eles me alertavam. Eu ainda preferia a fama, meninas e amigos falsos. Não digo que todos do meio eram assim, mas a maioria só se importava com o seu próprio umbigo, na hora da felicidade eram beijos e abraços. Mas era um se ferrar para ninguém se importar. Revoltei-me com uns, dei presentes a outros. E no fim todos na lama, sem importar quem era quem de onde vinha ou onde morava.





Um ano perdido, enquanto os que tentaram me ajudar avançaram, eu retrocedi. Comecei a pensar no por que de tudo isso. Uma coisa banal, eu fiz uma escolha tão idiota, tão sem sentido. De que me serviu tudo isso? Amigos não ganhei nenhum, perdi o ano, ganhei olhares de rejeição. E ainda tive que dizer a minha família o tão fraco que fui. Eu não gosto de demonstrar esse arrependimento. Não quero que pensem que sou um brega.



Esse ano estou me esforçando, estou vendo que o nerd que alguns zoam, pode ser melhor amigo do que o que me convida para a balada. Aprendi a ver melhor o que cada um tem para dar ao mundo. Uns mudam, outros permanecem os mesmo para sempre. Bons ou ruins. Eu entendo agora, mas existem muitos que vão repetir meu erro mais umas 7.000 vezes e não vão aprender.





E você? Aprendeu? Qual é a sua escolha?





As vezes você cria um monstro dentro de você. Procura fantasmas que vão te perseguir para sempre. Cabe a você acabar com eles ou não.





De: Ange Lyn