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25 de julho de 2011

Despedida

"Caso tenha algum erro no conto abaixo eu peço que vocês o ignorem.
Eu, Giullianna Drukleim, o escrevi chorando...
Não queria me despedir de vocês, é muito doloroso para mim..
Agradeço à cada um que leu os contos, que comentou, que apoiou etc.

ESTE ÚLTIMO CONTO EU DEDICO À VOCÊS, QUERIDOS LEITORES!

Adeus..."

21 de julho de 2011

O Último Conto

"Não havia dia nublado ou chuvoso tampouco assombrado ou medonho, a única coisa que tomava conta de mim, naquele momento, era o cansaço.
Criar um texto cansa, e escrevê-lo cansa mais ainda.

O pior de tudo não era o cansaço de criar e escrever, estes seriam recompensados caso as pessoas se importassem em pelo menos ler os contos.
Pior mesmo era passar o dia inteiro escrevendo e ver que só duas pessoas foram ler e talvez comentar.

Não, eu não queria fama nem glória, mas se as pessoas achavam esta ideia louca e sem graça por que nos deram esperança? Por que nos aceitaram no orkut? Por que viraram membros da comunidade?
Quanto mais o número de membros, no orkut e na comunidade, crescia, mais empolgada eu ficava.
Mas, e daí? Eu não via esse crescimento ser reproduzido nos comentários - que aliás diminuíram com o tempo - e nem no acesso ao Blog.
Eu queria escrever um conto de despedida, mas acho que não posso me despedir sem antes desabafar. Agradeço à alguns leitores que não nos deixaram nunca, estavam sempre presentes (não citarei nomes para não ser injusta).
À eles eu dedico este último conto..."



Houve uma época em que o Liceu era uma escola de ensino fundamental, você sabia disso? Não?! Então se prepare para saber o que acontecia quando ainda havia crianças ali e porque agora não há mais.
Eu estudava no Liceu há 2 anos e vivia sendo mandada para a diretoria. Não porque eu fizesse besteira, mas pelo simples fato de estar sempre matando aulas.
Na última vez que fui parar lá o diretor mandou que eu ficasse sozinha por 30 minutos lá dentro, pensando no motivo pelo qual eu mato aulas. Tenho que admitir que é mil vezes melhor do que ficar levando broncas e escutando que aquilo ainda me fará muito mal. Estava sentada na mesa dele, a janela estava aberta e por ela entrava um vento frio, meu agasalho estava na minha mochila que, por sua vez, estava no pátio.
Eu não queria morrer congelada, como se isso fosse possível, e o jeito foi fechar a janela. Levantei-me e fui em sua direção, tentei puxar para baixo, mas ela estava emperrada, fiz mais força e acabei derrubando um armário de arquivos, de dentro dele voaram várias pastas amareladas. Eram tão velhas que poderiam esfarelar se não fossem manuseadas com cuidado. Juntei-as rapidamente e só depois percebi que as fotos das fichas estavam espalhadas pela sala. Entrei em desespero e comecei a juntá-las, mas algo me chamou a atenção: todas aquelas fotos eram de crianças.
Comecei a olhá-las e levei um susto quando vi a foto de minha mãe. No verso da foto estava escrito: falhou.
O que será que aquilo queria dizer?! Guardei a foto e levei para casa, assim que cheguei eu fui perguntar à minha mãe se algum dia ela havia estudado no Liceu e ela ficou pálida.
A louça de porcelana que estava em suas mãos caiu no chão e se quebrou. Ela puxou uma cadeira, levou a mão à cabeça e pediu que eu me sentasse. Ficamos algum tempo caladas, uma olhando pra cara da outra até que ela me mostrou uma marca em seu braço esquerdo. Era disforme e se assemelhava à um "F", perguntei o que era e ela me contou a seguinte história:

*Houve uma época em que o Liceu foi um pequeno orfanato onde ficavam crianças abandonadas. Com o passar do tempo o orfanato faliu e todas as crianças foram colocadas na rua. Um homem teve pena e fez com que o antigo orfanato "Um Só Coração" se torna-se numa escola para crianças carentes.
No começo todos acharam que este homem tinha bom coração, ele doou seu tempo para ficar como diretor de uma escola que nada recebia do Governo. Com o passar do tempo o prédio começou a desmoronar e ele, sem nenhum dinheiro, colocou as crianças para trabalhar na obra. Na época, eu fazia parte do grupo de crianças que carregava os tijolos de barro, era um trabalho pesado, eu tinha só 6 anos de idade. Muitas crianças morreram, outras foram soterradas, algumas tiveram sérias doenças, mas eu resisti à todas. Os anos se passaram e quando eu tinha 9 anos a obra ainda estava ativa.
Ninguém mais aguentava trabalhar daquela maneira, éramos crianças... Numa manhã de Agosto a obra foi finalizada, mas o diretor queria fazer daquele edifício, completamente reformado, um condomínio da alta sociedade. Para que tal plano entrasse em ação ele precisava dar um fim em todas às crianças que resistiram ao trabalho e eu fazia parte desse grupo.
Ele passou a nos negar comida e água, trabalhávamos horas por dia, alguns foram morrendo pelo terreno e ele, com medo de que alguém desconfiasse de algo, enterrava os corpos ali mesmo. Quase todos morreram, sobraram apenas 5 crianças e eu era uma delas. Ele tentou de tudo para nos matar, mas foi em vão. Um dia, ele nos pegou pelo braço e com uma afiada navalha fez uma espécie de "F", que para ele queria dizer fracasso.
Ele nos colocou na rua e, por 8 anos, aquele prédio foi um condomínio residencial, mas todas as pessoas de lá começaram a morrer aos poucos. Ninguém sabe ao certo por quê.
Algumas, que saíram vivas, disseram ter escutado choro de criança, martelos batendo e gritos de socorro... Estes, que escutaram essas coisas, foram embora com medo. O prédio foi abandonado e fizeram dele uma escola, mas desta vez para jovens. Nunca acharam o corpo do diretor, dizem que as crianças que ele matou e enterrou naquele mesmo terreno, vieram buscá-lo.
E tem mais, algumas pessoas falam que os ossos do diretor são vigiados pelas crianças e quem chega perto, morre!
Olhei para minha mãe e soltei um riso de ironia. Não havia acreditado em nenhuma palavra que ela havia pronunciado. Ela, por sua vez, me olhou com compaixão e disse que não podia fazer nada para que eu acreditasse, aquela era a história dela. Dela e do Liceu...


Giullianna Drukleim

4 de maio de 2011

A Velha.

Aquilo já estava me estressando.
Na verdade, estava estressando a todos!
A questão era: por que tiraram os pirulitos da cantina?
E agora? Como eu iria ficar sem meus pirulitos???
Mal sabia eu que essa situação logo mudaria.

Bom, eu estava andando pelo corredor, de cabeça baixa, pensando em alguma coisa que não me lembro no momento, mas o fato não é esse, o importante é que enquanto eu andava de cabeça baixa eu vi o papel de um dos meus pirulitos preferidos.
Eu peguei, olhei e perguntei à um menino que passava se ele sabia de onde tinha vindo aquele papel, ele olhou para os lados e me pegou pelo braço, chegou bem perto do meu ouvido e disse que uma velhinha estava no terceiro andar(na torre) e ela vendia todos os tipos de doces que eu poderia imaginar.


Uau, todos os doces?

Eu perguntei a ele que horas ela chegava na escola e ele me disse que não sabia ao certo, mas que na opinião dele ela nunca saia do Liceu.

Eu nem me importei com esse último comentário, aproveitei que estava em tempo vago e fui correndo lá em cima para comprar meus doces. Fui correndo, feliz e sorridente, como se lá em cima tivesse alguém dando dinheiro...


Me certifiquei de que ninguém havia me seguido e entrei no portãozinho que levava ao terceiro andar, chegando lá eu caí em um corredor imenso e completamente vazio, nem portas haviam lá.

Com certeza aquele menino havia me enganado, e a trouxa caiu! Minha vontade era encontrá-lo novamente só para perguntar por que ele havia me enganado daquele jeito.

Eu já havia me virado pra ir embora, mas uma voz bem frágil me disse: - "Menina, não vai querer balinhas?"

Era a tal velha que ele havia me dito, ela estava lá e com um saquinho na mão.

A princípio eu tive um pouco de receio, pois não sabia ao certo se ela era do bem ou do mal.

"Que coisa mais idiota, esse negócio de bem ou mal não existe, compre os pirulitos e vá embora!". Foi exatamente assim que eu pensei e quando dei por mim já estava entregando o dinheiro a ela e pegando os meus tão sonhados pirulitos.


Os dias se passaram e eu continuei a ir lá em cima só para comprar aqueles malditos doces.

Até que um dia, a história tomou outro rumo...


Eu subi, como de costume e sem perceber eu peguei o pirulito antes de pagar, quando eu coloquei a mão no bolso vi que estava sem dinheiro, disse para a velha que ia descer e pegar o dinheiro que fica guardado na minha mochila, ela não acreditou e disse que eu estava querendo lhe roubar; eram apenas 25 centavos, não havia motivo para todo aquele drama, falei novamente que desceria para pegar o dinheiro e retornaria em seguida, ela deixou e eu já estava subindo as escadas novamente para pagar a "dívida", quando encontrei o menino que havia me falado sobre a velha dos doces, ele me olhou e desesperado me perguntou se eu tinha ido comprar as balas, eu respondi que tinha ido para comprar pirulitos mas ele continuou desesperado e me falou:


- Não vá mais, por favor, eu lhe imploro!

- Por que você está falando assim? Até parece que ela vai me matar, cara ela é só uma velha maluca que vende doces no terceiro andar, que mal tem nisso?

- Só me responde uma coisa, ela já te enganou também?

- Me enganar? Do que você está falando?

- Ela já te fez ficar devendo dinheiro?

- Já, mas eu estava indo lá em cima para pagar.

- Não vá! Por favor, ela vai, vai...


Quando ele ia falar o que ela ia fazer comigo se eu subisse a língua dele deu um nó, bem na minha frente, eu juro que vi!

Ele, que já estava desesperado, começou a entrar em estado de choque e a me olhar com um olhar de pena, ele queria me dizer alguma coisa, mas infelizmente eu não consegui interpretar o que aqueles grandes olhos castanhos queriam me dizer.


Uma coordenadora chegou e o levou para o hospital, e depois que isso tudo passou eu tornei a pegar o meu caminho e subir as escadas.
Estava com medo, nunca tinha visto uma língua "dar um nó" na minha vida.
Aquilo tudo era muito estranho, mas uma voz na minha cabeça disse: "é falta de açúcar. Vá logo comprar mais doces." Foi exatamente isso que eu fiz.

Cheguei no terceiro andar e a velha me olhou:
- Trouxe meu dinheiro? - perguntou ela.
- Sim claro, está aqui no meu bol... Ué! Cadê o dinheiro!?
Eu comecei a ficar desesperada, o dinheiro havia sumido. Eu tinha certeza que estava no bolso.

- Tentando me passar a perna né? Pois, devolva os doces que comprou!
- Mas, eu já comi...

Ao dizer esta frase o rosto da "doce e frágil" senhora se encheu de uma fúria da qual nunca vi igual. Ela me olhava como se fosse me devorar.

- Então você vai ter que me deixar algo como garantia. Ou melhor, terá que me pagar com algo, e agora!
- Mas, eu não tenho mais dinheiro!!
- E quem disse que eu quero em dinheiro?

Aquela frase me assustou. O quê mais ela poderia querer que não fosse dinheiro? Comecei a andar para trás, mas ela me segurou. Eu estava com medo, muito medo. Ela me olhou e disse:

- Seus dentes são tão lindos... Acho que já sei o que eu quero.

Eu estava desesperada e ela, percebendo meu desespero, começou a me explicar:
- "Sabe, eu achei um livro que ensinava a como "trocar" partes do corpo com outras pessoas. Está vendo meus belos olhos verdes? São de um menino do 3° ano, ou melhor, eram! Olhe minhas mãos, elas são de uma pianista aqui do Liceu... O ruim é que agora esse menino do terceiro ano está cego e a pianista sem suas mãos. Logo logo você estará sem seus belos dentes."

Comecei a chorar desesperadamente, eu era obcecada pelos meus dentes. Aquilo não era justo. Senti uma pontada na boca e quando dei por mim todos os meu dentes haviam caído e a velha estava com outros, idênticos aos meus, em sua boca.
Continuei chorando por um tempo até que vi duas meninas chegando para comprar doces, pude ouvir quando a velha elogiou o cabelo de uma e o nariz da outra...
Pobres meninas, teriam o mesmo destino que o meu...


Giullianna Drukleim