Páginas

4 de maio de 2011

A Velha.

Aquilo já estava me estressando.
Na verdade, estava estressando a todos!
A questão era: por que tiraram os pirulitos da cantina?
E agora? Como eu iria ficar sem meus pirulitos???
Mal sabia eu que essa situação logo mudaria.

Bom, eu estava andando pelo corredor, de cabeça baixa, pensando em alguma coisa que não me lembro no momento, mas o fato não é esse, o importante é que enquanto eu andava de cabeça baixa eu vi o papel de um dos meus pirulitos preferidos.
Eu peguei, olhei e perguntei à um menino que passava se ele sabia de onde tinha vindo aquele papel, ele olhou para os lados e me pegou pelo braço, chegou bem perto do meu ouvido e disse que uma velhinha estava no terceiro andar(na torre) e ela vendia todos os tipos de doces que eu poderia imaginar.


Uau, todos os doces?

Eu perguntei a ele que horas ela chegava na escola e ele me disse que não sabia ao certo, mas que na opinião dele ela nunca saia do Liceu.

Eu nem me importei com esse último comentário, aproveitei que estava em tempo vago e fui correndo lá em cima para comprar meus doces. Fui correndo, feliz e sorridente, como se lá em cima tivesse alguém dando dinheiro...


Me certifiquei de que ninguém havia me seguido e entrei no portãozinho que levava ao terceiro andar, chegando lá eu caí em um corredor imenso e completamente vazio, nem portas haviam lá.

Com certeza aquele menino havia me enganado, e a trouxa caiu! Minha vontade era encontrá-lo novamente só para perguntar por que ele havia me enganado daquele jeito.

Eu já havia me virado pra ir embora, mas uma voz bem frágil me disse: - "Menina, não vai querer balinhas?"

Era a tal velha que ele havia me dito, ela estava lá e com um saquinho na mão.

A princípio eu tive um pouco de receio, pois não sabia ao certo se ela era do bem ou do mal.

"Que coisa mais idiota, esse negócio de bem ou mal não existe, compre os pirulitos e vá embora!". Foi exatamente assim que eu pensei e quando dei por mim já estava entregando o dinheiro a ela e pegando os meus tão sonhados pirulitos.


Os dias se passaram e eu continuei a ir lá em cima só para comprar aqueles malditos doces.

Até que um dia, a história tomou outro rumo...


Eu subi, como de costume e sem perceber eu peguei o pirulito antes de pagar, quando eu coloquei a mão no bolso vi que estava sem dinheiro, disse para a velha que ia descer e pegar o dinheiro que fica guardado na minha mochila, ela não acreditou e disse que eu estava querendo lhe roubar; eram apenas 25 centavos, não havia motivo para todo aquele drama, falei novamente que desceria para pegar o dinheiro e retornaria em seguida, ela deixou e eu já estava subindo as escadas novamente para pagar a "dívida", quando encontrei o menino que havia me falado sobre a velha dos doces, ele me olhou e desesperado me perguntou se eu tinha ido comprar as balas, eu respondi que tinha ido para comprar pirulitos mas ele continuou desesperado e me falou:


- Não vá mais, por favor, eu lhe imploro!

- Por que você está falando assim? Até parece que ela vai me matar, cara ela é só uma velha maluca que vende doces no terceiro andar, que mal tem nisso?

- Só me responde uma coisa, ela já te enganou também?

- Me enganar? Do que você está falando?

- Ela já te fez ficar devendo dinheiro?

- Já, mas eu estava indo lá em cima para pagar.

- Não vá! Por favor, ela vai, vai...


Quando ele ia falar o que ela ia fazer comigo se eu subisse a língua dele deu um nó, bem na minha frente, eu juro que vi!

Ele, que já estava desesperado, começou a entrar em estado de choque e a me olhar com um olhar de pena, ele queria me dizer alguma coisa, mas infelizmente eu não consegui interpretar o que aqueles grandes olhos castanhos queriam me dizer.


Uma coordenadora chegou e o levou para o hospital, e depois que isso tudo passou eu tornei a pegar o meu caminho e subir as escadas.
Estava com medo, nunca tinha visto uma língua "dar um nó" na minha vida.
Aquilo tudo era muito estranho, mas uma voz na minha cabeça disse: "é falta de açúcar. Vá logo comprar mais doces." Foi exatamente isso que eu fiz.

Cheguei no terceiro andar e a velha me olhou:
- Trouxe meu dinheiro? - perguntou ela.
- Sim claro, está aqui no meu bol... Ué! Cadê o dinheiro!?
Eu comecei a ficar desesperada, o dinheiro havia sumido. Eu tinha certeza que estava no bolso.

- Tentando me passar a perna né? Pois, devolva os doces que comprou!
- Mas, eu já comi...

Ao dizer esta frase o rosto da "doce e frágil" senhora se encheu de uma fúria da qual nunca vi igual. Ela me olhava como se fosse me devorar.

- Então você vai ter que me deixar algo como garantia. Ou melhor, terá que me pagar com algo, e agora!
- Mas, eu não tenho mais dinheiro!!
- E quem disse que eu quero em dinheiro?

Aquela frase me assustou. O quê mais ela poderia querer que não fosse dinheiro? Comecei a andar para trás, mas ela me segurou. Eu estava com medo, muito medo. Ela me olhou e disse:

- Seus dentes são tão lindos... Acho que já sei o que eu quero.

Eu estava desesperada e ela, percebendo meu desespero, começou a me explicar:
- "Sabe, eu achei um livro que ensinava a como "trocar" partes do corpo com outras pessoas. Está vendo meus belos olhos verdes? São de um menino do 3° ano, ou melhor, eram! Olhe minhas mãos, elas são de uma pianista aqui do Liceu... O ruim é que agora esse menino do terceiro ano está cego e a pianista sem suas mãos. Logo logo você estará sem seus belos dentes."

Comecei a chorar desesperadamente, eu era obcecada pelos meus dentes. Aquilo não era justo. Senti uma pontada na boca e quando dei por mim todos os meu dentes haviam caído e a velha estava com outros, idênticos aos meus, em sua boca.
Continuei chorando por um tempo até que vi duas meninas chegando para comprar doces, pude ouvir quando a velha elogiou o cabelo de uma e o nariz da outra...
Pobres meninas, teriam o mesmo destino que o meu...


Giullianna Drukleim