Eu morava em umas das ruas atrás do Liceu e estava passando por ali, pois iria comprar alguns ingredientes que faltavam para a ceia. Andava rápido, não podia demorar.
Quando passei em frente ao Liceu, vi que a porta estava aberta. Primeiramente estranhei, afinal por que a escola estaria funcionando no último dia do ano? De repente uma voz conhecida e amigável chamou pelo meu nome.
Olhei melhor para ver quem estava atrás daquele portão pesado da entrada, um menino de aproximadamente uns seis anos ficou me olhando, eu perguntei: - Tem alguém ai com você? (eu ouvira a voz de uma amiga e essa voz era inconfundível). O menininho apenas balançou a cabeça, e entrou no interior da escola, confesso que senti vontade de ir embora, mas como eu deixaria uma criança de seis anos sozinha entrar naquele lugar? Mesmo ele dizendo que havia alguém com ele eu deveria conferir.
Andei aqueles corredores quase que todos, no jardim do meio, no pátio, na quadra de trás no segundo andar e nada. Todas as salas estavam fechadas, mas quando eu resolvi ir embora o menino saiu de dentro de uma delas, meu coração disparou rapidamente.
Ele parou na minha frente e sorriu, olhei para os lados tentando entender a situação, cheguei a achar graça. Ele abriu a boca e disse: - Você não conseguiu me achar. A graça logo sumiu e eu fui rude: - É, não achei, mas agora a brincadeira acabou e vamos encontrar os seus pais. Ele novamente sacudiu a cabeça em sinal de afirmação, andei mais uma vez a escola quase que toda com o menino do meu lado, calado. Eu me estressei completamente, e gritei: - Onde estão os seus pais?!?! Ele sorriu, e fez um sinal com a mão me levando até a sala de aula que fica antes do auditório, abriu a porta e me empurrou com uma força inestimável para uma criança de sua idade. E simplesmente engoliu a chave, eu tremia.
O que estava acontecendo? Não tinha para onde fugir, as janelas estavam trancadas.
Bem, o menino me encarava friamente. Enfeites prateados e dourados começaram a aparecer nas paredes, um grande relógio antigo aparecera no meio do teto, uma mesa cheia de comidas ocupava o outro lado da sala, e eu sem perceber estava vestida com um vestido longo e prateado. E o menino com uma faca na mão...
Acordei com o barulho do relógio que marcava meia noite, ainda estava na mesma sala, não senti dor alguma, mas percebi o que havia acontecido. O sangue estava a minha volta e logo desapareceu. O menino sorrindo disse: - Agora eu não passarei mais nenhum ano sozinho. Seja bem vinda!
Eu estava morta.
Ainda estou, e disso eu não posso escapar. Corro atrás desse menino dia e noite, é a única maneira de amenizar minha memória de como eu antes vivia. Você deve estar se perguntando como esse texto veio parar aqui não é? Estou na sala de informática, escondida, pois acho que o menino a qual prefiro não citar nome está planejando recrutar um novo “amiguinho” para nos fazer companhia nesse final de ano. Ele tem observado cada aluno e escolherá a dedo.
Se quiser permanecer vivo e comemorar um novo ano feliz, não passe em frente ao Liceu no dia 31 de Dezembro.
Feliz 2011...
Ange Lyn