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11 de novembro de 2010

O Bom Velhinho

Véspera de natal! Tudo fica enfeitado e bonito. As pessoas sorriem e agem com gentileza. Tudo de bom acontece, parece que o ar está carregado de felicidade e amor... Só esqueci de um detalhe: tudo isso acontece fora do Liceu. Lá dentro as coisas são bem diferentes. As pessoas te olham estranho e te tratam mal, o ar está sempre com um pouco de angústia e apreensão. Nem mesmo o espírito natalino muda essa situação.
Eu nunca acreditei no Papai Noel, para falar a verdade sempre morri de medo dele; era uma vergonha correr do Papai Noel aos 15 anos de idade. Mas eu tenho que confessar que entrar no Liceu te transforma completamente...
2° ano, tudo é festa, não há uma preocupação sê quer. Pelo menos para mim, não! Posso dizer que tudo mudou quando Newton, professor de física, entrou na sala.
Já estávamos no final de Novembro e ele estava lá para aplicar uma prova.
Pode ter sido pura neurose mas, eu acho que assim que ele entrou, me encarou e sorriu para mim. Aquele sorriso me lembrou o Papai Noel do Plazza, na época eu tinha 6 anos... Tenho medo dele até hoje... Voltando ao assunto, ele pegou as provas e as distribuiu com sorrisos.
Assim que ele terminou de entregar, foi para a frente da sala e disse:
- Vocês já fizeram a cartinha para o Papai Noel? Ouvi falar que ele faz milagres até no boletim...
Todos riram, menos eu. Essa coisa de papai noel me dava arrepios.
O tempo passou e eu fui a última a entregar a prova. Quando fui entregá-la parei do lado dele, conferi se estava tudo certinho e notei que havia esquecido de colocar o nome. Eu já ia voltar para minha mesa, mas ele me chamou e disse que eu podia usar sua caneta. Quando me abaixei para escrever meu nome ele disse:
- Se você foi uma boa menina vai receber um presente do Papai Noel, e eu acho que você não deveria ter medo dele...
Eu terminei de escrever, entreguei minha prova e fui embora, nem mesmo dei tchau ou obrigada. Ouvir aquelas palavras me deu vontade de chorar...
Como ele sabia do meu medo e por que havia dito aquilo?
Seria Newton o "bom velhinho" ?
Eu estava confusa e apavorada. Saí chorando e esbarrando em todo mundo, até que tropecei num menino e rolei escada abaixo.
Tive a impressão de estar flutuando, parecia um... um sonho.
Eu me levantei e fui em direção ao banheiro mas, acabei esbarrando numa menina, pedi desculpas, mas ela me ignorou. Tornei a pedir desculpas e ela continuou sem me notar, eu pulei na frente de um menino, para ver se ele me via, e o atravessei!
Eu não podia tocar em nada, mas conseguia ver e ouvir tudo!
Até que não era tão ruim assim. Eu podia fazer o que quisesse e ninguém nunca saberia...

Comecei a andar pela escola e passei em frente a sala dos professores. Newton estava sozinho lá dentro.
Entrei e fiquei em pé ao lado dele ouvindo tudo que ele murmurava. Até que ele se sentou e perguntou:
- Você quer alguma coisa?
Eu olhei para um lado e depois pro outro, não havia ninguém na sala.
Ele olhou diretamente para mim e disse:
- Pensei que você tivesse medo de mim! Ou melhor, do Papai Noel!

Como assim? Ele era o Papai Noel? Não! Não era possível ele era o professor de física!
Me desesperei! Era inacreditável, era assustador! Era um choque para mim.
Sai correndo e ouvi ele gritar: não adianta correr, eu estou em todos os lugares.
Parei no pátio central e fiquei em pé, pensando em tudo que aconteceu naquele dia. Tentando acalmar meu coração.
Notei que tinha alguém sentado no banco. Olhei para ver quem era, e Newton estava lá. Não mais com sua blusa social azul e sim com uma roupa completamente vermelha e com um gorrinho na cabeça.
Quis chorar, gritar, correr, mas sabia que não ia dar em nada.
Preferi encarar meu medo e cheguei mais perto dele.
Do lado do banco estava um saco vermelho, ele o pegou e disse:
- Você foi uma boa menina! Quer o quê de presente?

Eu olhei, incrédula, e disse gaguejando:
- Eu, que-quero voltar a-ao normal.

Ele me olhou com aquele doce olhar de papai noel e disse:
- Tem certeza? Eu posso realizar qualquer desejo!

- Tenho! Eu que-quero voltar...

- Então tá! Feche os olhos por cinco segundos, quando os abrir tudo voltará ao normal!

Eu fechei meus olhos, contei até cinco e quando abri vi um bando de gente ao meu redor, formando um circulo.
Ouvi alguém dizer que eu tinha caído da escada e batido com a cabeça. Olhei para cima e vi nitidamente Newton com um gorrinho acenando para mim!

Muitos dizem que foi pura alucinação, eu já acho que tudo foi obra do bom velhinho!

(...)

Giullianna Drukleim.